segunda-feira, agosto 02, 2010

Conversas entre Filho e Pai!... ( Continuação )

Ficamos pasmados com tantas memórias deste pequeno rio, mas sobretudo pela fiabilidade das suas afirmações ao usar exemplos típicos e próprios dos humanos, e, como era possível, ter tido uma evolução, que nós acreditávamos só possível na nossa espécie?!...
Achamos que o nosso interlocutor teria muito mais para nos contar e sugerimos que continuasse e o nosso velhinho rio não se fez rogado:
«-Contamos continuar por cá ainda uns bons milhões de anos - disse - mas nos últimos tempos começo a ser mais cauteloso nos meus palpites e até já comentei com o meu grande amigo rio Douro - que é meu pai! - um mundo de preocupações para o nosso lado, depois dos estrangulamentos a que nos sujeitaram em toda a bacia do rio maior e que afectaram todos os afluentes, onde estou incluído, sem apelo nem agravo!... O meu pai que é um rio experiente, ouviu-me atentamente, com uma calma que não era seu timbre, lá me foi dizendo, que há momentos na vida que temos de usar a inteligência que temos e a suplente, se for caso disso, porque melhores tempos virão, e, fez-me ver, que, com estas barragens hidro-eléctricas pelo Douro acima, terá sido ele o mais castigado, mas, que muitos dias têm um milhão de anos e que nós os contemos, disse!... Tranquiliza-te e deixa de ser pessimista, que com os tempos as mudanças acontecem e sem ninguém contar, e, até aproveitou para citar aquela frase que atribuem ao Camões: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"... O meu pai acha que os humanos são até inteligentes, mas que não raras vezes são uns convencidos e portadores de um orgulho que só os atraiçoa, e, lembrou-me, que vivem a sonhar, convencidos de que foram os primeiros a praticar actos de solidariedade... Puro engano o deles - diz o meu pai - porque foi graças à solidariedade entre o Sol, os mares e os rios, mas não só, que há mais de quatro mil milhões de anos atrás, foi possível iniciar uma longa caminhada que tornou possível chegarmos todos até aqui! Mas há mais, meu querido filho, a solidariedade que ainda hoje praticamos, não tem nada a ver com a dos humanos - disse - que se baseia na mesquinhez e na ganância, em que dão alguma coisinha, mas querendo receber muito mais em troca!...» ( Continua )

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